Ela

30/08/2011 13:39

    Ainda é muito jovem, está na flor da idade, exibe uma beleza esculpida pela natureza, moldada pelo tempo. Vive anonimamente pelos becos da vida, mente em constante desafio, coração sem dó, não tem o conforto de um lar decente, alarmante fruto do descaso social. Rústica como pedra, perambula sem destino, levada pelo tempo, tocada pelo vento, sem saber para onde ir.

    Alegria, inexiste, o ódio substitui o amor e as graças do sorrisos. Seus anos juvenis esmaecem paulatina e brutalmente consumidos pela droga infame e selvagem, chamada "crack".

    Infância inacabada, dias incertos e encurtados pelos efeitos deletérios dos alucinógenos perversos. Não sabe se o dia seguinte é um novo dia. Seu mundo é falso, enganoso, perigoso, inconseqüente, tudo pode acontecer repentinamente: amanhecer ou perecer.

    Descortina-se no semblante, o ódio, a agonia na abissal escalada indefesa dos efeitos colaterais alucinantes das drogas, seu alimento diário, seu lenitivo indômito.

    Seu mundo é pura ficção, sombrio, apagado, sem rumo, descamba indelével como avalanche. O horizonte se perde na penumbra ofuscante e sufocante do dia-a-dia. Olhar intrigante, indeciso, sem expressão, sem leveza, apavora. Nenhum sorriso estampa no rosto, há muito não expressa tamanha preciosidade.

    Destino infeliz, sem rumo, sem luz, sem apelo. Mundo artificial carregado pelo infortúnio. No rosto, envelhecido pelas intempéries, carrega os estilhaços de uma vida miserável.

    Ternura, no coração rejeita, duro demais para um sentimento tão nobre. Já nasceu assim: desprezada, despojada, desassistidacomo pedra bruto. Sozinha, absoluta, sem perspectiva, parece habitar um mundo como se fosse seu único dono a mandar.

    Seu dia a dia é o mesmo todos os dis: não muda, não anda, é vazio, sem valor. Sonhos, não os tem. Só lhe interessa o aqui e agora como prêmio maior.

    Passa a noite ao relento, abraçada ao vento, imune ao tempo, olhos esbugalhados, vermelhos como brasa. Futuro, não alimenta; esperança tampouco. Não há diferença entre o hoje e o amanhã; entre o dia e a noite.

    Falta-lhe suavidade. Falta-lhe sobriedade. Falta-lhe sensibilidade. Sobra-lhe, descaminho, desatino que o próprio tempo lhe impôs como recompensa vital.

    Vai-se uma vida preciosa, minada, dizimada pelo caminho sem volta das drogas impiedosas.

    Uma jovem como tantas outras que rondam por aí, abarcada pelo infortúnio dilacerante do dia a dia. Antes, exibia o fresco dos anos iniciais, tinha a graça juvenil, e hoje, fenece paulatinhamente tragada pela famigerada e inapelável droga chamada "crack". Fim triste e infeliz para os que se aventuram neste campo minado. Uma ida quase sem volta, uma sentença de morte.


Prof° José Ribamar

Cef 07 Ceilândia Sul/DF